No último sábado fui ao casamento de um velho amigo da faculdade. Um cara que vivia falando mal de casamento, um beberrão muito afeito a noitadas intermináveis nas boates de stripper. Só para se ter uma idéia, ele conhece pelo nome os garçons e as garotas de programa de todas as boates de Taguatinga Sul.
Sua despedida de solteiro não poderia ter acontecido em outro lugar. Na véspera do "enforcamento", como ele mesmo disse, fomos em um grupo de cinco amigos festejar a aposentadoria - temporária, acredito, - da vida noturna.
Chegamos por volta das 23h30. A gerente já nos esperava na porta. Era a "Silvinha Ice". Fora promovida. Era a menina que fazia pompoar com pedras de gelo, num espetáculo que considerei meio bizarro quando vi, mas que tinha fãs de carteirinha. Os caras até ficavam esperando as pedrinhas saírem para pôr na bebida. Agora, ela já não se apresentava mais. Apenas comandava as "mariposas".
Silvinha nos recebeu bem e nos acomodou na melhor mesa junto ao palco das stripers.
- Quero atendimento cinco estrelas para meu amigos. Gritou. Daí em diante foram rodadas de chope, uísque, Red Bull, drinques exóticos (e caros!) escolhido, é claro, pelas meninas que lustravam seus quadris purpurinados em nossas pernas.
A noite se alongava e tudo estava sob controle, até que duas das mais belas e corpulentas dançarinas chamaram o "noivinho" para o palco. Ele foi o mais rápido que sua embriaguez permitiu. Escorregou duas vezes na borda, recebeu um empurrão do garçom e rastejou até o pé de uma delas.
Loira de cabelos longos, ela calçava um tamanco com salto de acrílico longo, que ajudou a enterrar ainda mais o branco microshort "defunto" que ela vestia. Seu figurino se completava com muita maquiagem e um sutiã vermelho, daqueles comprados numa sex shop de mau gosto.
A moça foi rápida. Puxou-o pela gola e tascou-lhe um beijo antes que ele balbuciasse qualquer asneira. A outra, tão bela quanto, não quis correr o risco de perder a gorjeta. Enfiou a língua entre a boca dos dois.
Assim eles ficaram por algum tempo, cheios de braços e pegadas, ao som da música bate-estaca ensurdecedora, como um polvo multicolorido se contorcendo no fundo do mar.
Eu sabia que aquilo ia piorar. Ele sempre foi metido a dar shows e eu tinha a certeza de que ele não ia perder aquela oportunidade. Ainda mais na sua despedida de solteiro, na nossa frente!
Ele começou a performance com moderação. Mordeu os pescoços das meninas, mordiscou-lhes os decotes, foi fisgado pelo piercing do umbigo de uma delas, soltou-se e foi descendo. Beijou-as como e onde quis. Só não fizeram sexo no palco. Pelo menos não da forma mais tradicional.
No dia seguinte, o sermão do padre ainda me parecia distante dentro da bagunça que a ressaca provocava em minha cabeça. Nós quatro nos sentamos enfileirados num dos bancos da igreja e ficamos ali, paradinhos, sem falar com ninguém. Não podíamos deixar que descobrissem nosso destino na noite passada. Fiquei com pena dele de pé na cerimônia. Os efeitos da noitada também o açoitavam, conforme denunciava o suor em sua testa.
Mas a noiva estava linda. Mudou pouco desde que ele conhecera na faculdade. A julgar pela mãe dela, uma coroa inteirona para a idade, ela permaneceria assim viçosa por muito tempo.
De repente, o padre:
- Pode beijar a noiva!
Dado a chamar atenção, ele olhou para nós com um sorriso sarcástico, segurou a noiva pela cintura, virou-a como em cena de filme americano e deu-lhe um longo e apaixonado beijo.
Nós do banco, lá da quarta fila, assistimos a tudo com expressões sisudas, quase fúnebres. Não resisti a cena. Sentenciei: beijo de noivo tem gosto de prostituta.
Nossas gargalhadas ecoaram pela igreja.
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